
Biblioteca Livros Mágicos
Escola Classe Córrego do Arrozal
Zona rural de Sobradinho
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Escola Classe Córrego do Arrozal
Zona rural de Sobradinho
Biblioteca Livros Mágicos
Escola Classe Córrego do Arrozal
Zona rural de Sobradinho
Biblioteca Livros Mágicos
Escola Classe Córrego do Arrozal
Zona rural de Sobradinho
Quem lhe ensinará o sorriso
E a graça de assim ficar
Com as luzes do paraíso
Sustentadas no olhar?
(Retrato de uma criança com a
flor na mão, Cecília Meireles)
A arte de cuidar
O primeiro indício da arte de cuidar surge em letras coloridas logo no corredor da entrada: “Bem-vindos! A alegria da nossa escola é ter vocês aqui conosco!” O sorriso alegre no rosto das crianças dá evidências de que as boas-vindas não se resumem a uma frase. Às que se aproximam da diretora com alguma pergunta, Joliene Dutra Martins para e responde, olhos nos olhos, citando o nome. Elas abrem mais ainda o sorriso.
É assim com cada uma das 99 crianças da Escola Classe Córrego do Arrozal, em uma pequena comunidade próxima a Sobradinho. Joliene as conhece bem. “Sei o nome de todos eles, sem exceção”, orgulha-se. “E quando o nome é igual, chamo pelo sobrenome também.”
A atitude faz parte da estratégia de acolhimento que a diretora aprendeu em um curso de gestão. “Quando chamamos o aluno pelo nome ele se valoriza, se sente alguém ali dentro. Se você não acolhe bem a criança, não obtém o lado positivo dela.”
Outra importante estratégia, o investimento na leitura, também se torna evidente logo nos primeiros passos de quem entra. Frases do escritor Monteiro Lobato chamam a atenção nas paredes: “Um país se faz com homens e livros”; “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”.
“Todos têm que aprender a usar a própria cabeça e a leitura é o princípio de tudo. O livro tem que estar nas mãos deles todos os dias”, justifica Joliene, que esbarrou nesse grande desafio quando assumiu a direção da escola, em 2010, e encontrou alunos matriculados no quinto ano que ainda não sabiam ler.
O primeiro passo para enfrentar o problema foi preparar um plano de ação, “numa construção coletiva de toda a equipe de servidores”, que concluiu pela necessidade de investir também na participação da comunidade.
“O mais importante em nossa missão de educar é conhecer o currículo oculto da comunidade”, diz Joliene. Isso significa conhecer o que o aluno traz de casa, trabalhar a aprendizagem com base no contexto familiar e social, nas necessidades e aspirações de cada um.
O segundo passo para apoiar o aprendizado foi a criação da Biblioteca Livros Mágicos. Era a ferramenta que faltava para incentivar o hábito da leitura. “Quando fiquei sabendo da existência do projeto Bibliotecas do Saber, fomos atrás para conseguir. Deu tão certo que depois disso estou sempre pedindo à equipe do projeto alguma coisa que falta aqui”, brinca Joliene. “É a parceria do sonho coletivo.”
“O dia mais legal da minha vida”
As medidas não demoraram a mostrar resultados. Apostando nos instrumentos básicos para a qualidade do ensino, a equipe conseguiu derrubar os índices de defasagem entre a idade do aluno e a série cursada.
No Córrego do Arrozal, os professores observam que a rotatividade dos alunos que vêm de assentamentos próximos dificulta a construção da identidade da comunidade escolar. A crianças, por sua própria condição de vida, já chegam com a auto-estima abalada.
Mesmo assim, o desafio da defasagem idade/série foi vencido. “Temos registrado avanços significativos no desempenho pedagógico de nossos alunos”, diz Joliene, que atribui o sucesso ao trabalho diário de fomentar o hábito da leitura e de estimular a descoberta de um mundo inteiro de oportunidades.
O “saber ler” muda a vida das crianças, como aconteceu com João Vitor Gabriel, de dez anos de idade. O menino ainda não havia aprendido a ler quando fazia o segundo ano e sofria ao se comparar com os colegas. Foi salvo pelo próprio esforço de “juntar as letras” nos livros da biblioteca. E pelo apoio da professora que se dedicou a ajudá-lo.
“Ficava vendo os outros meninos lendo, e aí ficava chorando em casa porque eu não conseguia. Falava com a minha mãe, pedia, mas ela não conseguia me ensinar. Eu tinha uma vontade de ler muito grande, porque via os meninos se desenvolvendo, menos eu. Aí a ‘tia’ me ensinou assim, tipo o ABC, começou a me ajudar. E a biblioteca me ajudou muito. Na hora que eu vi que já sabia ler foi o dia mais legal da minha vida. Foi o mais feliz”, conta o aluno, que agora está no quinto ano.
